segunda-feira, 2 de agosto de 2021

NOTA SOBRE O INCÊNDIO NA CINEMATECA BRASILEIRA

A Rede Nacional de Arquivistas das IFES - ARQUIFES identificou e se alinhou à iniciativa do Fórum Nacional de Ensino e Pesquisa em Arquivologia (FEPARQ) em produzir uma nota sobre o incêndio na Cinemateca Brasileira.

Diante da gravidade dos fatos, o Comitê Nacional de Arquivistas das IFES (CNIFES) aprovou que a Rede ARQUIFES assinasse a nota que foi divulgada pela Coordenação do FEPArq.

Além da Rede ARQUIFES, outras sete entidades também assinam o documento, além de todos os cursos de arquivologia do Brasil.

NOTA DO FÓRUM NACIONAL DE ENSINO E PESQUISA EM ARQUIVOLOGIA  (FEPARQ) SOBRE O INCÊNDIO NA CINEMATECA BRASILEIRA 

No dia 29/07/2021 assistimos com tristeza e extrema preocupação mais um evento de destruição do patrimônio cultural brasileiro. O incêndio no depósito de arquivos da Cinemateca Brasileira, na zona oeste de São Paulo, consumiu quatro toneladas de documentos sobre políticas públicas de cinema do Brasil, deixando um rastro de perda sem precedentes para a história e memória do cinema e audiovisual brasileiro é imensurável.
Segundo relatos de diversos gestores, servidores e ex-funcionários, a maior parte dos documentos perdidos fazia parte de um acervo documental que contemplava filmes históricos e registros únicos das políticas para o cinema, desde a década de 1960 com o Instituto Nacional do Cinema, passando pelo Conselho Nacional de Cinema e por parte da história da Embrafilme, até chegar à atual Secretaria Nacional do Audiovisual.
Desde 2019, quando foi encerrado o contrato entre o governo federal e a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto, a Acerp, organização social que fazia a gestão da Cinemateca Brasileira, as instituições de patrimônio, os profissionais do cinema e audiovisual, as entidades de preservação e a comunidade acadêmica vêm assistindo a um enredo de péssima qualidade, recheado de descaso, incúria, inércia e incompetência com o patrimônio documental do país. Desde então, o governo federal foi alertado por inúmeras instâncias, mas nada fez.
No primeiro semestre do ano passado, o Ministério Público Federal abriu investigação sobre a falta de uma unidade gestora na Cinemateca e requereu judicialmente que, em caráter emergencial, a União renovasse o contrato com a gestora anterior, buscasse nova gestora ou assumisse ela mesma a gestão desse patrimônio. Mas o governo federal nada fez.
Arquivos são repositórios de informação, conhecimento e memória. Arquivos não podem esperar. A preservação audiovisual é uma tarefa contínua que exige profissionais altamente qualificados, recursos técnicos, financeiros, monitoramento constante e cuidados na manutenção e atualização de equipamentos. A negligência do poder público em relação à área da preservação no Brasil é uma questão histórica e estrutural, mas ao que parece, tornou-se política do atual governo federal. É um descaso inaceitável, que atinge órgãos da cultura, como a própria Cinemateca, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e a Fundação Casa de Rui Barbosa. É uma combinação deliberada e perversa de abandono e “desmonte”, sem precedentes na história do país. Até quando? E quantas instituições culturais e científicas mais passarão pelo mesmo problema?
Criada na década de 1940, a Cinemateca Brasileira é a principal instituição de preservação do patrimônio audiovisual do país e possui um amplo legado de contribuições a cultura. Carece urgentemente de recursos humanos, técnicos, financeiros, infraestrutura e gestão profissional que lhe permita cumprir sua missão.
As instituições da sociedade civil, as entidades científicas e profissionais devem cobrar a apuração dos fatos e a adoção de medidas urgentes para garantir a preservação adequada do patrimônio documental do país pois, da mesma forma que ocorreu com a Cinemateca Brasileira, as demais instituições de preservação têm passado por um processo de deterioração das condições técnicas e de redução significativa de seus quadros profissionais, em virtude da omissão dos órgãos governamentais responsáveis. Assinam a Nota:
  • Fórum Nacional de Ensino e Pesquisa em Arquivologia (FEPARQ)
  • Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (ANCIB)
  • Associação Brasileira de Educação em Ciência da Informação (ABECIN)
  • Fórum Nacional das Associações de Arquivologia do Brasil (FNArq)
  • Rede Nacional de Arquivistas das IFES (Rede ARQUIFES)
  • Associação Nacional de História (ANPUH)
  • Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS)
  • Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS)
  • Associação Brasileira de Antropologia (ABA)
  • Curso de Arquivologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 
  • Curso de Arquivologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 
  • Curso de Arquivologia da Universidade Federal Fluminense (UFF)
  • Curso de Arquivologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
  • Curso de Arquivologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) 
  • Curso de Arquivologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) 
  • Curso de Arquivologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP)
  • Curso de Arquivologia da Universidade de Brasília (UNB)
  • Curso de Arquivologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) 
  • Curso de Arquivologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
  • Curso de Arquivologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
  • Curso de Arquivologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
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